sábado, 22 de outubro de 2011

Os Capitães da Areia e os capitães da vida real


Sábado à tarde, shopping vazio, cinema baiano depois de um pão recheado de milicos que me serviu de almoço e a companhia de minha mãe; esses foram os elementos da minha grande tarde de hoje. Fomos assistir à adaptação para o cinema do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado dos Ilhéus.

A obra, dirigida pela neta do escritor, e que estréia nessa função, a carioca Cecília Amado, narra de maneira um tanto fiel ao livro, a história dos Capitães da Areia, um grupo de meninos que vive num trapiche, na cidade de Salvador, e que pelas circunstâncias da vida precisaram se tornar homens sem estarem preparados pra isso. Pirulito, Sem-pernas, Volta Seca, Gato e Pedro Bala, o líder do grupo (que é colocado no filme como personagem principal) ganham, no filme, o destaque dado a eles na versão escrita.

Para encarnarem as personagens, foram escolhidos garotos das comunidades de Salvador que tiveram uma preparação de 2 meses para participarem do longa. A atuação da garotada não é digna de nenhum Oscar, mas a função social dessa escolha da diretora deve ser exaltada. Apesar da qualidade mediana das atuações, o filme emociona e, assim como o livro, nos leva a refletir sobre  quem são as crianças que, como a quadrilha representada no filme, vivem de pequenos roubos e furtos. São simplesmente criminosos ou são vítimas de famílias mal-estruturadas e de nossa sociedade que pouco se importa com quem não tem dinheiro para manter a sua dignidade?

Aqui em Vitória da Conquista está voltando a ser comum vermos crianças e adolescentes em situação de rua fazendo uso de entorpecentes e realizando alguns crimes. Mesmo com essa situação, poucas vezes nos questionamos quanto aos motivos que levaram aquelas inocentes criaturas a mergulharem no sofrido mundo da rua, dos crimes e das drogas. Será que nos emocionamos tanto quando vemos esses meninos perdendo a sua infância diante dos nossos olhos e ao alcance de nossas mãos?

Assistindo ao filme, acabamos por enxergar em Bala um pequeno herói, mas continuamos vendo os garotos que estão todos os dias nas praças, nas ruas e nas portas de restaurante nos pedindo ou nos roubando alguns trocados, como pequenos vagabundos que logo devem ser pegos pela polícia para que sejam “corrigidos”.

Sei  que não sou apenas eu quem faz essa reflexão, mas toda vez que um filme brasileiro toca na questão social essas reflexões explodem nas boca do povo e com o tempo cessam. Será mais uma vez assim?  Nós continuaremos a pensar a sociedade desigual em que vivemos apenas quando as mídias nos estimularem?

Se assim for, continuaremos a ser manipulados pelas grandes redes e continuaremos odiando os oprimidos e exaltando os opressores até que nossas mídias sejam regulamentadas afinal, os veículos de radiodifusão são CONCESSÕES PÚBLICAS e a maioria do filmes brasileiros que entram no circuito comercial recebem incentivos governamentais e por isso precisam atender as necessidades reais do povo!



 Assista ao trailler do filme:
                                                                               

3 comentários:

  1. Tenho que concordar contigo. O que será que estamos fazendo do "futuro do país". Porque querendo ou não, essas crianças que vivem a margem da sociedade também são o futuro do país. Acho que essa sua reflexão, é uma reflexão diária. Estamos jogando fora e deixando de ver que esses pequenos também precisam de apoio. Excelente texto Guilherme, parabéns!!

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  2. Obrigado, Lucas e Gabriela! Espero que um dia possamos enxergar nas nossas crianças a garantia de um futuro de qualidade para todos!

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