Boa parte da humanidade já deve
ter se acostumado a se questionar sobre a sua atual situação, seja ela
política, ambiental, moral, ética, enfim, refletir sobre o presente para tentar
planejar o futuro faz parte da cultura humana. Isso porque o homem já percebeu
que o futuro depende daquilo que ele faz no presente.
Alfredo Coelho confirma essa
tese ao afirmar que “Todo momento é passagem entre o que foi e o que ainda não
existe. Está em nossas mãos uma parte da responsabilidade de construir o que
será”. Com isso, Coelho acaba por afirmar, também, que não há intervenção
divina no futuro da humanidade que, segundo a interpretação sugerida à frase, a
humanidade torna-se a única responsável pelas situações a serem enfrentadas nos
dias vindouros.
Assim também o é em relação ao
presente que acaba por ser nada mais que conseqüência do passado, formando uma
espécie de teia onde tudo é explicado de pela sua causa. Sendo assim, os
acontecimentos sofrem relação de causa e efeito.
O homem atual então é fruto de
seus antepassados como corrobora Fritjof Capra ao dizer que “O homem não teceu
a rede da vida: ele é só um de seus fios. Aquilo que ele fizer à rede da vida,
ele o faz a si próprio”. Os filhos do homem atual, se existirem, serão novos
fios dessa rede, dependendo o homem única e exclusivamente de si e do que faz
de seus relacionamentos e do meio onde vive. Concordando com essas premissas,
Sartre disse que “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si
mesmo”.
Sendo assim, a idéia medieval de
que há um ser controlando os acontecimentos, castigando quem o desagrada,
concedendo “favores” a quem segue as suas leis e vontades, acaba sendo
abandonada pelos autores das citações acima, já que assumem uma linha de
pensamento que abandona o “infinito”, o “inexplicável” e adotam linhas de
raciocínio ligadas ao “finito”, ao “exato”; idéias que ganham força com o
advento do Iluminismo, por exemplo, que veio a estimular também, várias
reformas no modo de pensar e agir da humanidade, ou seja, o Iluminismo criou
força e transformou a cultura da humanidade. “Tudo o que é aceito sem
questionamento vira rotina” essa citação de Basílio Prim explicita bem parte do
pensamento que começa a criar forças.
As
influências iluministas são um tanto vastas e realizaram mudanças na vida
política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A era das luzes,
como também é conhecido o Iluminismo, foi marcada por transformações políticas
como a criação e concretização de estados-nação, o crescimento dos direitos
civis, e a diminuição do poder de instituições como a igreja.
Muitos agregam às idéias iluministas a
responsabilidade pelo nascimento das correntes de pensamento que caracterizaram
o século XIX: o liberalismo, o socialismo, e a social-democracia.
O abandono da visão medieval significava a ascensão
de uma visão racional, matemática, lógica da vida como um todo. A busca pela
exatidão e pelo cientificamente explicável passa a ser o objetivo a ser a ser
alcançado. A partir daí, pesquisas científicas começam a ser realizadas com
maior compromisso com os resultados e os métodos para alcançá-lo. O
racionalismo e o empirismo acabam por crescer e ganhar valor.
O homem passa então a se entender como indivíduo
responsável por seu futuro e passa a tentar planejá-lo. Com o tempo, percebe
que a experiência a vai ajudá-lo a acumular conhecimento para se projetar
tempos à frente, de modo a definir um “caminho” a percorrer para que seus
objetivos sejam alcançados da maneira mais rápida e exitosa possível.
Tudo isso por entender o encadeamento dos
acontecimentos, logo, percebendo a existência da lógica dentro deles. O homem
se percebe como seu senhor, como sua mais potente arma e como seu próprio
inimigo, fica claro que depende de si. “O homem é o lobo do próprio homem”.
(Thomas Hobbes).
Essa linha demonstra bastante coerência ao
abandonar os misticismos. O universo é regido, mas pela lógica, pelo
explicável. Para tudo há uma explicação racional, científica, mesmo que não
seja conhecida ainda. A existência de algum ser regente e criador dos
acontecimentos pressupõe que esse ser é dono da inteligência suprema, um ser que
criou uma lógica para os fatos e a obedece.
O algo que boa parte dos homens supõe existir e
comandar o universo é, de certo, portador de grande amadurecimento, pois deixa
suas criaturas livres para agirem e desenvolverem experiências e conhecimento,
de modo que sempre saibam explicar o que sabem, como sabem e porque sabem.
O que acaba por “martelar” a cabeça de quem reflete
sobre assuntos como esse é a origem da primeira “coisa”. Essa “coisa” teria
surgido do nada? Se assim pensarmos, somos fruto do nada? Então o nada pode
gerar frutos? Pensar assim só confirma-nos que acreditamos que tudo vem de
algo, mas de que?
Nenhum comentário:
Postar um comentário