Sábado à tarde, shopping vazio, cinema baiano depois de um pão
recheado de milicos que me serviu de almoço e a companhia de minha mãe; esses
foram os elementos da minha grande tarde de hoje. Fomos assistir à adaptação
para o cinema do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado dos Ilhéus.
A obra, dirigida pela neta do escritor, e que estréia nessa
função, a carioca Cecília Amado, narra de maneira um tanto fiel ao livro, a
história dos Capitães da Areia, um grupo de meninos que vive num trapiche, na
cidade de Salvador, e que pelas circunstâncias da vida precisaram se tornar
homens sem estarem preparados pra isso. Pirulito, Sem-pernas, Volta Seca, Gato
e Pedro Bala, o líder do grupo (que é colocado no filme como personagem principal)
ganham, no filme, o destaque dado a eles na versão escrita.
Para encarnarem as personagens, foram escolhidos garotos das
comunidades de Salvador que tiveram uma preparação de 2 meses para participarem
do longa. A atuação da garotada não é digna de nenhum Oscar, mas a função
social dessa escolha da diretora deve ser exaltada. Apesar da qualidade mediana
das atuações, o filme emociona e, assim como o livro, nos leva a refletir sobre
quem são as crianças que, como a
quadrilha representada no filme, vivem de pequenos roubos e furtos. São
simplesmente criminosos ou são vítimas de famílias mal-estruturadas e de nossa
sociedade que pouco se importa com quem não tem dinheiro para manter a sua
dignidade?
Aqui em Vitória da Conquista está voltando a ser comum vermos
crianças e adolescentes em situação de rua fazendo uso de entorpecentes e
realizando alguns crimes. Mesmo com essa situação, poucas vezes nos
questionamos quanto aos motivos que levaram aquelas inocentes criaturas a mergulharem
no sofrido mundo da rua, dos crimes e das drogas. Será que nos emocionamos
tanto quando vemos esses meninos perdendo a sua infância diante dos nossos
olhos e ao alcance de nossas mãos?
Assistindo ao filme, acabamos por enxergar em Bala um
pequeno herói, mas continuamos vendo os garotos que estão todos os dias nas
praças, nas ruas e nas portas de restaurante nos pedindo ou nos roubando alguns
trocados, como pequenos vagabundos que logo devem ser pegos pela polícia para
que sejam “corrigidos”.
Sei que não sou
apenas eu quem faz essa reflexão, mas toda vez que um filme brasileiro toca na questão
social essas reflexões explodem nas boca do povo e com o tempo cessam. Será
mais uma vez assim? Nós continuaremos a
pensar a sociedade desigual em que vivemos apenas quando as mídias nos
estimularem?
Se assim for, continuaremos a ser manipulados pelas grandes
redes e continuaremos odiando os oprimidos e exaltando os opressores até que
nossas mídias sejam regulamentadas afinal, os veículos de radiodifusão são
CONCESSÕES PÚBLICAS e a maioria do filmes brasileiros que entram no circuito
comercial recebem incentivos governamentais e por isso precisam atender as
necessidades reais do povo!
Assista ao trailler do filme: